Quatro semanas de prejuízo: comerciantes do bairro de São José vivem colapso após incêndio 58153x
1wc2c
Bloqueio causado por incêndio na Rua Direita paralisa fluxo comercial em uma das épocas mais lucrativas do ano
junho 13, 2025 - 7:03 pm

Foto: Júlio Gomes/LeiaJá
Desde o incêndio que atingiu a Rua Direita, no Bairro de São José, no Recife, comerciantes enfrentam dias de portas abertas e caixas vazios. O incidente, que completou quatro semanas nesta sexta-feira (13), começou na noite de 16 de maio, quando um incêndio de grandes proporções atingiu o prédio do antigo Cine Glória e uma loja de artigos de festas, a Lin Lin Festas. Desde então, o coração comercial da região vive um colapso logístico, financeiro e humano.
O Corpo de Bombeiros foi acionado por volta das 19h40 daquele dia. Apesar de ninguém ter se ferido, as consequências estruturais e econômicas vêm se acumulando. A Defesa Civil interditou parte da via e o IPHAN determinou a recuperação das fachadas dos prédios históricos atingidos. Mas, enquanto a burocracia avança a os lentos, os comerciantes contam os prejuízos e alguns já pensam em fechar as portas de vez.


Bairro de São José sente os efeitos: “A dor não é só da Rua Direita” 5j4z5d
Para Tiago Pradines, presidente da Associação dos Comerciantes do Bairro de São José, a tragédia transcende a Rua Direita. Dono de estabelecimentos na Rua do Jardim e na Rua do Nogueira, ele afirma que o impacto do bloqueio atinge toda a malha comercial do bairro.
“O fluxo de pessoas está comprometido. Se você não tem fluxo, você não tem venda. A gente está há quase três semanas comemorando prejuízo”, lamenta. Segundo Tiago, há comerciantes que amargam perdas estimadas em até R$ 40 mil. Um deles é João Maciel, que relata queda de 70% a 80% nas vendas, justamente no período mais promissor do ano para o comércio local: o ciclo junino
São João: o “segundo Natal” perdido 6on1p
Para os comerciantes, o mês de junho é sinônimo de esperança. No Recife, o São João movimenta o comércio como nenhuma outra data, com vendas aquecidas de roupas, calçados e artigos festivos. Mas em 2024, a Rua Direita uma das principais agens do centro antigo para o Mercado de São José está silenciosa.
Além disso, uma das principais reclamações dos vendedores é a falta de sinalização na rua que indique o local onde as pessoas podem ar a outra parte da rua. Procuramos o local mais próximo e descobrimos que a maior parte das pessoas usa como alternativa uma das galerias que tem agem para a Praça Dom Vital e a Rua Direita.

“Não tivemos vendas no Dia dos Namorados, nem agora. São João é nosso segundo Natal. E estamos sem movimento, com estoque parado”, desabafa João. Alguns empresários, mesmo operando parcialmente, já consideram ar os pontos adiante por falta de faturamento. A estimativa é que em três semanas, cerca de 80% das vendas tenham sido perdidas.
Dono de três lojas na região, uma delas totalmente interditada, Maciel afirma que o setor calçadista se preparou para o São João com grandes estoques, que agora encalharam. “A gente se organizou, investiu, comprou. E agora, estamos parados. Tivemos que negociar com fornecedores para adiar prazos de pagamento. Só assim estamos conseguindo respirar”, relatou.

Com 16 funcionários ativos, ele afirma que a empresa deixou de contratar reforços temporários para o período junino, como era de costume. “A gente não quer culpar ninguém, só quer uma solução. Um apoio, um diálogo. O prejuízo é incalculável. Se continuar assim, vamos ter que fechar.”
Silêncio e abandono no bairro de São José 1s5d3r
A sensação de abandono é quase unânime entre os comerciantes entrevistados. Célia Branca, responsável por um restaurante local, afirma que os lojistas estão sem representação e sem orientação. “Cadê o sindicato do comércio? Cadê a prefeitura? Todo mundo joga a responsabilidade no outro. E nós, que geramos empregos, ficamos ao léu”, protesta.
Ela ressalta ainda que a ausência de simples medidas, como sinalização alternativa para os consumidores arem as lojas, agrava o quadro. “O pessoal dobra a esquina e vai embora. Se tivesse ao menos um corredor liberado, a situação já seria outra. Mas nem isso”, completa.
Risco, burocracia e tapumes: um cenário sem prazo para acabar 2mi26
O bloqueio só poderá ser retirado após o escoramento e a recuperação de estruturas comprometidas. Segundo Minchelle Facury, proprietária de um dos imóveis atingidos, a Defesa Civil já liberou tecnicamente o seu prédio, mas a reforma ainda depende da finalização do projeto do engenheiro. “A fachada vai ser recuperada, o IPHAN determinou. Mas enquanto isso, tenho que bancar tudo. O prejuízo ainda nem consegui calcular”, afirma.
Entre projetos elétricos, aprovação de plantas e exigências do patrimônio histórico, o tempo a e a incerteza cresce. “A frente está liberada, mas não posso abrir, porque tenho responsabilidade com quem entrar no prédio. Só depois dos tapumes e da reforma é que talvez possamos voltar”, conclui Minchelle


Ime sem solução: o jogo de empurra institucional 1p4z4x
Parte da revolta dos comerciantes vem da falta de clareza sobre a responsabilidade pela situação. Segundo os relatos, o incêndio teria começado após a troca de um poste realizada pela Neoenergia, embora a empresa não tenha se pronunciado oficialmente sobre a causa. A loja atingida, a Lin Lin Festas, estava fechada por falta de energia no dia do incidente o que, para os lojistas, levanta ainda mais dúvidas.
Enquanto Defesa Civil, prefeitura, IPHAN e empresas privadas transferem responsabilidades entre si, quem arca com os prejuízos é o pequeno comerciante. O centro histórico, que deveria ser um símbolo de vida e cultura, se vê agora com fachadas fechadas, vitrines vazias e ruas esvaziadas.
O LeiaJá procurou a prefeitura do Recife para entender o que pode ser feito para ajudar os comerciantes da Rua Direita, mas não obteve resposta.